quinta-feira, 17 de outubro de 2013

    Para falarmos sobre cyberbullying, definimos antes ciberespaço e cibercultura.

    As tecnologias digitais e a profusão das redes interativas têm causado impactos nas práticas, atitudes, modos de pensamento e valores dos indivíduos na sociedade contemporânea. Essas tecnologias trouxeram mudanças na vida e na rotina das pessoas e geraram a cibercultura, nome dado pelo filósofo francês Pierre Lévy, estudioso das interações entre a sociedade e a internet, e o lugar para essa nova cultura é o ciberespaço:

    “O ciberespaço (que também chamarei de ‘rede’) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.” (LÉVY, 2000:17)

    Assim como ocorreu com o jornal, o rádio e a televisão, atualmente a internet vem modificando o hábito das sociedades. Paralelamente à sociedade real há uma sociedade virtual, movida por meio das novas tecnologias. Em função disso, hoje as pessoas também vivem vidas paralelas: uma real e uma virtual. Por meio da internet elas mantêm seu círculo de amizade, namoram, compram, trabalham, ganham dinheiro, estudam, escrevem bilhetes, cartas, pesquisam…
    Por conta desse relacionamento cotidiano com o mundo virtual surgiram muitos termos não tão comuns no nosso dia a dia, que estão mais ligados à tecnologia da informação, como cibermundo, ciberespaço, cibercultura, cibercidadão, etc., que têm sua origem na palavra cibernética.
    Dentre eles encontramos o cyberbullying, que é uma versão eletrônica do bullying praticada por meio de agressões verbais e escritas utilizando-se a internet. A vítima recebe mensagens ameaçadoras, conteúdos difamatórios, imagens obscenas, palavras maldosas e cruéis, insultos, ofensas, extorsão etc., e tudo isso pode alcançar milhões de pessoas em questão de segundos.
    Outro termo originado das novas tecnologias é mobilebullying, que diz respeito a qualquer perseguição causada por meio de mensagens de texto, fotos e vídeos enviados por celulares. Muitas vezes o mobilebullyingtorna-se cyberbullying, pois as informações são transmitidas do celular para a internet, já que hoje muitos celulares têm acesso à rede mundial de computadores.
    Existem pessoas que formam comunidades na internet para falar mal de determinados indivíduos. Os “amigos” criam tópicos na comunidade da escola falando mal de um jovem ou humilha-o por meio de e-mails ou recados nos sites de relacionamento, como Orkut, Facebook, Twiter, Myspace, blogs, websites, fotologs, vídeos no YouTube ou por transmissões eletrônicas instantâneas como Messenger, chats, etc.
    Para não serem identificados, os internautas criam fakes (perfil falso) para ameaçar as vítimas, porém é possível descobrir quem são.
    Essas ferramentas tecnológicas começaram a ser usadas pelos bullies recentemente, e esse fato está entrando nos ouvidos da opinião pública lentamente, já que é pouco abordado pela mídia. Esta é uma situação que ainda permanece na penumbra, num território que só é desvendado quando se pesquisa sobre a matéria ou quando a prática do cyberbullying entra em nossa casa.
    No cyberbullying o agressor usa as mesmas ameaças e ações do bullying, porém a diferença é que a vítima não apresenta provas reais. Não há ferimentos físicos ou roupas rasgadas, nem sumiço de objetos ou dinheiro. No entanto, não é difícil para os pais detectarem os sinais: o(a) filho(a) pode parecer nervoso(a), triste, amargurado(a), infeliz, a ponto de se isolar da própria família, depois de usar o computador ou depois de ver mensagens ou receber telefonemas pelo celular.
    O lar já não é um lugar de refúgio; esse tipo de violência invasiva ramifica-se, sai da escola, vai para a rua, entra no transporte coletivo e chega a casa. E o perigo de sua natureza anônima é a rápida difusão e alcance mundial.
CARACTERÍSTICAS DO CYBERBULLYING
    O cyberbullying tem algumas características bastante peculiares que são diferentes do bullying tradicional:
    Anonimato: O agressor é muitas vezes anônimo. A vítima fica se perguntando quem é o cyberbully, o que pode causar um grande estresse.
    Acessibilidade: Há geralmente um período padrão de tempo durante o qual os agressores têm acesso a suas vítimas. Os cyberbullies podem causar sofrimento a qualquer hora do dia ou da noite.
    Medos de punição: Muitas vezes as vítimas do cyberbullying não denunciam por medo de represálias de seus agressores e medo de que seus privilégios relativos ao computador ou telefone lhes sejam tirados. Geralmente as respostas dos adultos para cyberbullying são tirar o celular e o computador de uma vítima, que em seu entendimento pode ser visto como punição.
    Espectadores: O fenômeno de ser um espectador no mundo cibernético é diferente na medida em que se pode receber e transmitir e-mails, páginas da Web, imagens etc. O número de espectadores no mundo cibernético pode chegar a milhões.
    Desinibição: O anonimato proporcionado pela internet pode levar os jovens a ter comportamentos que não podem realizar face a face. Ironicamente, é o seu próprio anonimato que permite a alguns indivíduos intimidar outros.

    Numa sala de aula onde ocorre o bullying geralmente um é o valentão, com mais dois ou três colegas, e os outros são testemunhas.
    No bullying o processo para uma vítima se tornar agressor é lento, mas no cyberbullying quase todos se tornam coagressores por participarem das mensagens.
    No caso do cyberbullying, quando um ou alguns postam a mensagem ou as imagens, rapidamente os que estão na rede vão transmitindo aos outros, e as testemunhas também se transformam em agressores. Nas condenações por bullying geralmente há um ou dois alunos, mas nos processos de cyberbullying há casos com dezenove alunos envolvidos.
Cyberbullying em nove formas mais comuns
    O cyberbullying pode assumir muitas formas. No entanto, existem nove formas que são as mais comuns:
    Injúria: enviar repetidamente e-mail, scrap ou mensagem para uma pessoa dizendo que ela é “imbecil, asquerosa, nojenta”.
    Difamação: enviar repetidamente e-mail, scrap ou mensagem para várias pessoas dizendo que “fulano é burro porque foi mal na prova”.
    Ofensa: enviar mensagens eletrônicas repetidamente com linguagem vulgar.
    Falsa identidade: fazer-se passar por outra pessoa para obter vantagem ou por ato ilícito.
    Calúnia: publicar uma mensagem na comunidade virtual da escola dizendo “fulano roubou minha carteira”.
    Ameaça: enviar repetidamente mensagens que incluem ameaças de danos físicos, fazendo a vítima temer por sua segurança.
    Racismo: preconceito ou discriminação em relação a indivíduos considerados de outra raça.
    Constrangimento ilegal: perseguição; pudor que sente quem foi desrespeitado ou exposto a algo indesejável.
    Incitação ao suicídio: instigar, impelir, suscitar alguém a dar a morte a si mesmo.

    A escola poderá formar usuários digitalmente corretos.
    Os pais e educadores, mesmo que ainda tímidos internautas, são a ferramenta essencial no sistema educacional para o uso adequado do computador. A fim de proporcionar um ambiente virtual adequado para o desenvolvimento intelectual, psíquico e social das crianças e jovens internautas, certamente devem se preparar e assim formar futuros cidadãos, os quais desenvolverão o senso de responsabilidade no respeitar as regras, normas, regulamentos, para serem obedientes, disciplinados e conscientes quanto aos limites e riscos que a internet oferece.
    É necessário que os pais exerçam o seu papel como família e os educadores, com a colaboração dos pais, possam orientar os jovens quanto ao uso responsável e comedido dos recursos tecnológicos, alertando constantemente sobre os perigos provenientes do uso impróprio dessas ferramentas.

Autoria: Aloma Felizardo, extraído do livro Cyberbullying: Difamação na velocidade da luz. São Paulo: Willem Books, 2010.

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